Foto: Divulgação
A despedida ao cantor João Chagas Leite ocorre na manhã desta quarta-feira (12) em Erechim, no norte do Estado.O artista, que morou por mais de 20 anos em Santa Maria, morreu, na manhã de terça-feira (11), no Hospital de Caridade (HCE) em Erechim,onde residiu ultimamente para tratar de um câncer colorretal. Um dos principais nomes da música nativista do Rio Grande do Sul, ele gravou uma de suas últimas músicas, em julho, ao lado do amigo Evandro Zamberlan, também músico e compositor.
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No início do ano, Zamberlan, que liderou uma campanha para arrecadar recursos para o tratamento do artista, relembrou a amizade e o tratamento de saúde de João Chagas Leite.
– Eu tinha uma amizade de longa data com ele, que, casualmente, a partir do ano passado, se estreitou bastante. No começo desse ano, ele começou a apresentar um problema de saúde e eu, juntamente com dois amigos, comandamos uma campanha para levantar recursos para essa cirurgia dele. E, para nossa felicidade, nós tínhamos uma meta, e nós conseguimos mais do que o dobro do valor. A gente viu o quanto ele era querido, veio dinheiro de todo o Estado – relembrou Zamberlan.
O amigo também contou sobre a última parceria musical entre os dois, gravada em estúdio, no mês de julho deste ano, com nome de "Infinito". Um trecho da música que foi escrita pelo Evandro fala em renascimento. Conforme o trecho:

Nada vai separar nosso mundo
De perder teu sorriso, teu jeito criança
Renascemos todo día pra o outro
E sabemos os atalhos do caminho
– É uma letra minha, melodia dele e me chamou a atenção que ele fez questão que eu cantasse com ele a música. E eu não tenho por hábito cantar, eu sou mais compositor, mas ele insistiu, insistiu e aí a gente cantou junto a música.
Evandro, que se recorda da vontade de sempre estar fazendo novas músicas em contatos por rede social com João. Ele lamenta a morte o cantor aos 80 anos.
– E ele vinha super bem. Infelizmente, nos últimos dias, deu essa reviravolta aí, mas com certeza foi um grande amigo, um grande parceiro e todo mundo vai sentir muita falta dele – lamentou o compositor.
Um exemplo de superação
Em um artigo publicado no Diário em 27 de junho de 2024, quando o cantor recebeu a Medalha Coração do Rio Grande da Câmara de Vereadores, Zamberlan já havia destacado a trajetória de superação do artista. Confira na íntegra o artigo publicado ano passado:
"Sem dúvida, uma merecida homenagem e um justo reconhecimento ao músico que, há 25 anos, trocou Uruguaiana – sua terra natal - para vir morar e fazer história em Santa Maria.
Originalmente, João gostava de rock e usava cabelos compridos. O nativismo vinha em segundo plano. Porém, ao vencer a 3ª e a 4ª Tertúlia Musical Nativista, com as composições “Penas” (Kenelmo Alves e Francisco Alves) e “Pampa, Campo e Querência” (Sílvio Genro e João Chagas Leite), seu destino mudou completamente. João se assumiu como intérprete e compositor e se tornou um dos principais nomes do cancioneiro gaúcho.
Olhando como tudo começou, percebemos o quanto João é um vencedor na vida. Nasceu com uma limitação nos dedos da mão esquerda, mas foi em frente e achou um jeito de realizar o seu sonho de tocar violão. Mesmo destro, mudou o lado do instrumento, utilizando a mão direita para fazer os acordes e adaptando uma dedeira – muito utilizada por Teixeirinha e outros cantores – ao seu polegar esquerdo, após descobrir que era possível amolecê-la em água quente, ajustando-a ao formato do seu dedo.
João é um artista de muita versatilidade. Além do seu trabalho na música, já apresentou programas de televisão, fez locuções para o rádio e também já atuou no cinema. Recentemente finalizou as gravações de seu segundo filme, chamado “Barão Hirsch – O Judeu de Quatro Irmãos”, a ser lançado no começo do ano que vem. João faz o papel de um mercador de escravos e o elenco conta com nomes conhecidos, como Humberto Martins, Ana Kutner (filha dos atores Paulo José e Dina Sfat) e Grande Otelo Filho (filho de Grande Otelo), além de outros atores globais.
Um fato interessante da sua vida foi quando, retornando de um show, deparou-se com a ponte do Vale do Menino Deus – popularmente chamada de Garganta do Diabo – trancada, em virtude de um homem que ameaçava se jogar dali. Os policiais tentavam convencê-lo a não se atirar. Sem saber o motivo do congestionamento, João desceu do carro e foi ver o que estava acontecendo. O homem que pretendia se matar percebeu a sua aproximação, reconhecendo-o de pronto. João, então, começou a dialogar com ele. Nesse momento de distração, os policiais conseguiram segurá-lo, impedindo o seu suicídio.
Muito além do grande artista que conhecemos, João Chagas Leite é um homem simples, querido e amigo de todos, que traz consigo uma linda trajetória a ser contada. Venceu os obstáculos que a vida lhe trouxe, sem jamais perder a esperança, conquistando o reconhecimento e a admiração dos amigos e do seu público. Um exemplo de superação de vida. Um excepcional cantor e compositor, que segue levando com entusiasmo sua arte aos palcos do Rio Grande do Sul e de outros estados."